A Coruja que pia

Era uma vez uma coruja que piava. Ela piava alto e o tempo inteiro infernizando os ouvidos de quem seu pio alcançasse, mas sem que ninguém conseguisse em lugar algum descobrir de onde que vinha esse pio. O Olimpo já não aguentava mais aquela coruja piando o tempo inteiro, até que resolveram contratar o melhor caçador de todos os tempos para encontrá-la.

Ártemis quase enlouqueceu de ciúmes quando soube que teria sido Órion e não ela a ser contratado como o melhor caçador de todos os tempos. Ela se considerava a melhor caçadora e ameaçava qualquer um que ousasse tentar lhe roubar esse título, principalmente sendo esse qualquer um “um gigantezinho abusado” chamado Órion.

Teve início uma dura e sangrenta caçada para descobrir quem foi o responsável por contratar Órion ao invés dela. Ninguém em qualquer reino, lugar ou dimensão alguma quis enfrentar a ira daquela pequena deusa assassina.

Por uma obra do azar, houve um pobre desavisado chamado Adônis que tinha acabado de voltar do mundo dos mortos para o seu novo emprego na secretaria de controle de animais silvestres. Foi no seu primeiro dia de trabalho que Adônis resolveu assinar uma carta de contrato de caça para um gigante que ele admirava bastante por conta das histórias que ouvia enquanto estava no mundo inferior. Ainda tentando se atualizar das últimas novidades sobre o mundo dos vivos, no seu segundo dia de trabalho, Adônis deu de cara com uma velha conhecida gritando pelo “infeliz que só podia estar tirando onda com a cara dela” no balcão de informações. Era Ártemis, o que fez com que o pobre coitado temesse pela sua nova vida como nunca antes tivera na vida passada, já que o último encontro entre os dois resultou na morte de Adônis. Ela perguntou sobre o trabalho da coruja que piava e Órion. Adônis todo sorridente e prestativo lhe entregou o documento mostrando o contrato de Órion para o trabalho de caça. Ártemis não disse palavra alguma além de um sorridente “Obrigado” antes de partir. Meia hora depois, enviou um javali de três cabeças para destruir cada ínfimo pedacinho de Adônis e garantir que ali ele não voltasse mais.

Depois de cuidar de Adônis, Ártemis decidiu que ela mesma completaria a missão de caça da coruja. Seria a hora de finalmente “esfregar na cara daquele convencido quem era o melhor caçador”.

Órion, por sua vez, já estava na trilha da coruja por um bom tempo. Ele queria provar para Ártemis de uma vez por todas qual dos dois era o melhor caçador. E de quebra oferecer sua caça como uma oferta de paz entre os dois desde um  certo incidente envolvendo um escorpião e uma flechada.

Por todos os cantos os dois seguiram em busca da coruja que piava, mas nada encontravam.

Depois de dois anos de caça e de pio sem parar, Ártemis e Órion resolveram fazer as pazes para caçar aquela coruja que piava, juntos. Órion pediu desculpas por sua mãe ciumenta enviar um escorpião para matar os dois e Ártemis se desculpou por ter mandado ele pro Tártaro com uma flecha cravada no seu coração, mesmo que não sentisse qualquer remorso por isso.

Juntos, não demorou muito tempo até que encontrassem a coruja que pia.

Strix era o nome dela. Ela já estava esperando que os dois a encontrasse faz um bom tempo.

Sua voz ecoava por todos os lugares como se saísse de dentro da própria cabeça de quem escutasse.

— Procurei vocês por todos os lugares.

— Minha querida, acho que você se enganou. Eu é que estive te procurando com a companhia de minha bela e futura esposa.

— Você para com isso antes que eu enfie mais uma flecha nesse teu coração idiota e te mande pro Tártaro mais uma vez.

— Tá bom, tá bom. Não tá mais aqui quem falou. Enfim! E de onde foi mesmo que você disse que veio Strix?

— Do passado. Ou seria que era do futuro? Agora eu não sei bem ao certo. Sempre me confundo com essas coisas bobas.

— E o que você é? Uma mensageira ou algo assim?

— Sim. Acredito. Ou talvez eu seja a própria mensagem. Droga… eu sabia que devia ter anotado… ou será que foi culpa daquela folha estranha que comi?

— Mas do quê é que essa coruja tá falando? Você tá entendendo alguma coisa disso, Ártemis? Eu fui contratado pra caçar e calar a boca dessa coisa e não pra ficar fazendo perguntas.

— Isso deve ser coisa da Athena. Desde que ela começou a andar com aquele tal de Loki que uns lances estranhos começaram a acontecer lá no Olimpo. Devem estar aumentando o terreno, só pode.

— Loki? Eu assisti um filme desse cara no ano passado. Ele faz ótimas comédias estilo pastelão. O trabalho deles me lembra muito Os Trapalhões e um pouco de Monthy Pyton. Você se lembra daquele filme dele em que ele interpretava todos os personagens? Aquilo foi hilário.

— Aquela foi a coisa mais idiota que já assisti em toda minha vida.

— Eu, hein! Bem que o Apolo vive dizendo que você não tem o mínimo senso de humor….Hey, pra onde foi a coruja?

— Coruja? Ué? Mas ela estava aqui agora mesmo.

— Sumiu. Será que foi alguma coisa que eu disse?

— Com certeza foi alguma coisa que você disse. Ficamos quase um ano inteiro caçando essa coruja juntos, sem contar nos outros dois anos de caça. E quando finalmente encontramos a droga da coruja, você vem me falar dos filmes do idiota do Loki.

— É. Pelo visto parece que essa nossa parceria de caça chegou ao fim, outra vez. Vê se mira a flecha num lugar que não me cause tanta dor dessa vez. Foi um saco ter passar a usar um canudinho toda vez que eu precisava ir ao banheiro enquanto me regenerava.

— Não olha pra mim assim. Foi você que veio pra cima todo se querendo.

— Eu já estava de saco cheio de ficar nessa tua firendzone. Tanta deusa por aí e minha mãe resolveu me criar sendo logo a cara metade inversa daquela que resolveu se manter eternamente virgem. Você entende minha situação?

— Sua mãe te criou pra me matar. E ainda por cima quando você não conseguiu, ela tentou se livrar de nós dois juntos. Depois ainda fez meu irmão Apolo assistir um tal de Game of Thrones e ficar com umas conversas estranhas pra cima de mim.

— Ótima série. É uma pena o que acontece com o…

— Cala essa boca que eu comecei a assistir a primeira temporada antes de começarmos com essa caçada e se tu me der algum spoiler, te arranco a cabeça.

— Tá bom! Tá bom! Não tá mais aqui quem falou. E aí? Tá afim de um cineminha? Pelos velhos tempos?

— Tá, você paga o ingresso.

— Beleza. Mas eu ainda tô com uma coceirinha no ouvido.

— Que foi?

— Vamos deixar aquela história de coruja de lado?

— Acho que sim. Por que?

— Nada não. Mas se eu tivesse assistindo um filme assim eu ia ficar com muita raiva se do nada deixassem a coruja de lado e terminassem o filme.

— É mesmo. Eu também ficaria.

— Seria uma péssima história.

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